domingo, 13 de março de 2011

Especulaçao Imobilíaria

Donos de imóveis antigos de BH resistem ao avanço da especulação imobiliária
A nova capital, erguida entre 1894 e 1897, nasceu para ser o símbolo maior da República de Minas. Registros contam que Aarão Reis, chefe da comissão construtora, recebeu carta branca para demolir todo o antigo Arraial del-Rey em nome do progresso.

Mais de um século depois, a metrópole Belo Horizonte, dos engarrafamentos e arranha-céus, avança novamente sobre seu passado. Mas, desta vez, corre o sério risco de apagar páginas importantes de sua história.

O abalo, esta semana, das estruturas de um casarão de 1896 (anterior à inauguração da cidade), na Rua Paraíba, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de BH, pelo bate-estaca de um luxuoso prédio de 23 andares evidencia a dificuldade de se preservar a memória, mesmo tombada, numa cidade movida pela força do desenvolvimento e da especulação imobiliária.

Mas há quem enfrente, a trancos e barrancos, a falta de políticas públicas, a pressão de um centro urbano transformado e até resista às tentadoras propostas milionárias das construtoras, caso de donos de imóveis não tombados. Gente convicta de que patrimônio histórico não tem preço.

A mudança no perfil de BH, que se despede das casas e prédios antigos para dar lugar a espigões, faz parte de um ciclo vivido por grandes cidades difícil de ser interrompido, na avaliação da diretora de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Michele Arroyo. Segundo ela, o fenômeno é reforçado por uma política fraca de preservação dos bens históricos, distanciada do planejamento urbano.

“A política de patrimônio, que começou apenas a partir dos anos 1990, entra em choque com a especulação imobiliária, principalmente na Região Central, e também com a Lei de Uso e Ocupação do Solo, que é extremamente permissiva. Só vamos chegar ao equilíbrio quando as políticas urbanas considerarem a questão do patrimônio como um valor”, afirma.

Enquanto a balança pesa mais para o lado da construção civil, donos de imóveis antigos, tombadas ou não, fazem o que podem para manter viva a memória de uma época. Consciente da riqueza do patrimônio, o historiador Daniel Antunes Júnior, de 89 anos, que tem uma cobiçada casa no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul, está na contramão de uma história que ele estudou a fundo. “BH tem três idades. A primeira, de quando foi construída, composta por alguns casarões no Bairro Funcionários.

A segunda idade é retratada por imóveis de 1940, como minha casa, que estão sendo substituídos pela terceira idade, a fase atual, da especulação imobiliária”, explica Daniel, que chegou a recusar propostas de até R$ 5 milhões pela residência.

A substituição das casas por prédios está longe de ser a única ameaça. “O desafio maior é que imóveis muito antigos, de mais de 100 anos, não foram feitos para o ritmo atual da cidade. Um caminhão de lixo causa trepidações na casa. A rede de esgoto foi feita de manilha de barro.

O piso é apoiado em peças de madeiras”, conta o arquiteto Marcos Moysés, dono do casarão de arquitetura eclética da Rua Paraíba, antiga morada dos primeiros funcionários da nova capital. “Depois do tombamento, tive a isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), mas gasto muito mais com a manutenção.”

Protegido desde 2000, o imóvel, situado em meio à efervescência da Savassi, faz parte das cerca de 700 construções tombadas pelo Conselho Deliberativo de Patrimônio Cultural de BH. Marcos já perdeu a conta de quantas vezes, antes do tombamento, recusou ofertas para vendê-lo.

As recusas são justificadas por uma paixão. “Há quem goste de carro antigo, eu amo casa velha.” Mas ele não está só. Em meio aos prédios, bares e lojas da Rua Pium-í, no Bairro Sion, na Região Centro-Sul, uma casa com jeito de palacete é convite irrecusável para viajar na história.

O imóvel mantém arquitetura idêntica à da inauguração, em 1932. A fachada imponente traz detalhes de folhas treliçadas nas janelas e um painel de azulejo português. O esmero é de uma família que nunca quis saber de vender a casa, situada em meio aos metros quadrados mais caros da cidade, nem mesmo antes do tombamento, em 2000.

“Estou aqui desde que me casei, em 1965. A casa era do meu sogro. Nunca cogitamos de sair daqui. É onde acontece tudo de importante na nossa família”, ressalta o professor aposentado Fernando Campos Furtado, dono do imóvel.

A casa continua gual, mas a vizinhança... “Aqui era o ponto final do bonde. Antes, tudo era casa antiga. Mas temos que nos conformar que o projeto agora é de prédios”, ressalta Fernando. O desejo de ficar trouxe nova responsabilidade. Qualquer intervenção precisa ser informada à Diretoria de Patrimônio Cultural da FMC. “Temos a obrigação de conservar o imóvel, mas a burocracia para conseguir incentivo financeiro é muito grande.

Acabamos tendo de bancar a reconstrução, sem mexer na estrutura, e sem ajuda. E há quem não respeite. Toda as semanas a casa é pichada”, afirma Fábio, um dos filhos de Fernando.

A marca do vandalismo só ajuda a reforçar a realidade de uma Belo Horizonte que ainda não conseguiu dar a devida importância aos bens históricos. De acordo com o coordenador do mestrado em ambiente construído da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Leornardo Barci Castriota, as melhores cidades do mundo são aquelas que conservam o patrimônio natural e cultural.

“São áreas que atraem turismo, que têm referência e identidade. BH, infelizmente, está na contramão. É possível haver, sim, o crescimento, desde que seja planejado. As regiões têm que ser pensadas a partir de um desenho urbano. Não funciona manter duas ou três casas em Lourdes, é necessária a proteção de um conjunto de obras”, critica
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2010/10/11/interna_gerais,185086/donos-de-imoveis-antigos-de-bh-resistem-ao-avanco-da-especulacao-imobiliaria.shtml




Comentário
Infelizmente há uma grande especulação imobiliária porque geralmente é imóvel central com grande valor. Tem pessoas que não tem como manter o imóvel e além do mais tem as questões políticas também. Enquanto isso Belo Horizonte vai perdendo cada vez mais sua identidade.  

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